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Nos últimos anos, a cafeicultura brasileira atravessou uma grave crise em função do excesso de oferta de café nos mercados externos e internos. Como resultado disso, observou-se no mercado interno uma forte queda nos preços recebidos pelos produtores e, curiosamente, não ocorreu um aumento do consumo de café pelos consumidores nacionais, como era esperado que acontecesse, conforme previsões da ABIC. Procurando detectar o porquê dessa contradição, foi feita uma pesquisa no mercado regional do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, uma das principais áreas cafeeiras do Brasil e cuja população possui um poder aquisitivo relativamente bom em comparação a outras áreas do país. A pesquisa foi baseada nos preços recebidos a nível de atacado pelos cafeicultores associados da GARCAFÉ de Patrocínio-M.G., no período de outubro de 1999 a setembro
de 2002, preços esses fornecidos em dólares e convertidos em reais, usando-se a cotação oficial do dólar. No estudo da variação dos preços do café a nível de consumidor (varejo), foram utilizados os preços médios coletados mensalmente, no mesmo período, nas cidades de Uberaba e Uberlândia, respectivamente pelo CEPES da Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro de Uberaba e Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia. Após tratamento dos dados, observou-se que entre outubro de 1999 e setembro de 2002, os preços recebidos pelos cafeicultores alcançaram os valores médios de R$ 175,95 no 1º ano, R$ 124,41 no 2º ano e R$ 104,39/saca de 60Kg no 3º ano. Nesse período, verificou-se que a queda nos preços médios do 1º ano para o 3º ano estudado foi de 40,67%, reduzindo drasticamente a renda dos cafeicultores
mineiros. Ao analisarmos os preços pagos pelos consumidores no mesmo período, observamos que em Uberaba o preço médio do kg do café variou de R$ 7,17 no 1º ano para R$ 6,77 no 2º ano, caindo para R$ 5,93 com uma redução total de 17,20%. Já em Uberlândia, os consumidores locais pagaram pelo kg do café R$ 6,46 no 1º ano, R$ 5,95 no 2º ano e R$ 5,33 no 3º ano, observando-se nessa praça uma redução de 17,49% no preço do café nesse período de outubro de 1999 a setembro de 2002. A pesquisa apurou também, que nestes três anos, os preços médios praticados em Uberaba foram 10% mais caros do que aqueles observados em Uberlândia. Observamos também nesse período, que enquanto os preços no atacado, recebidos pelos produtores recuaram 40,67%, os preços no varejo recuaram 17,20%, gerando uma diferença de 23,47% que foi abocanhada pelo setor torrefador. Mesmo descontando-se os custos de industrialização e os impostos pagos para o exercício da atividade industrial, foi possível observar que os torrefadores foram os maiores beneficiários dessa queda de preços ocorrida no café nos últimos três anos analisados. Para que a cadeia do agronegócio do café torne-se forte, faz-se necessário que os torrefadores mudem de atitude nas relações com o mercado interno, ou seja, remunerando melhor os cafeicultores e melhorando a qualidade do produto industrializado. Caso contrário, fica difícil manter ou aumentar o consumo do café no país como deseja a ABIC e os produtores. |
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