Resumo:
A maioria dos estudos desenvolvidos no âmbito do mercado mundial do café tem considerado que os cafés provenientes de diferentes países ou regiões exportadoras, em um dado mercado importador, são substitutos perfeitos. Assim, por pressuposição, independentemente da origem e do mercado importador, tais estudos consideram que os cafés apresentam, implicitamente, elasticidade de substituição que são infinitamente elásticas; isto é, quando ocorre uma alteração nos preços relativos de cafés de origens diferentes, em um dado mercado, os países importadores tenderiam a deixar de importar os cafés de preços relativos maiores e passariam a importar daqueles países cujos preços relativos tornaram-se menores. Em tais circunstâncias, a estimação das elasticidades de substituição, tornam-se irrelevantes. O presente estudo, ao contrário, levou
em consideração a diferenciação do café conforme o país ou região de origem e, portanto, pressupõe que os países importadores fazem distinção entre os diversos cafés, que deixam de ser substitutos perfeitos, apresentando elasticidades de substituição que não são infinitamente elásticas. Entre as causas de diferenciação dos cafés à vista dos importadores, estão aquelas relacionadas à qualidade (Cafés robustas ou Arábicas, suaves ou naturais, por exemplo), ou aquelas relacionadas à "fatores nacionais", como a escolha de diferentes origens para minimizar restrições na oferta, ou mesmo fatores ligados à imperfeição dos mercados. Nesses casos, quando há uma alteração nos preços relativos, os países ou regiões importadoras tenderiam a reduzir as importações originárias dos exportadores com preços mais elevados, sem, contudo, deixarem de importar
daqueles países. Foram estimadas as elasticidades de substituição para os cafés importados pelos principais países importadores, com procedência dos principais países exportadores. Pelo lado do mercado importador selecionou-se os Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Espanha, Canadá, Inglaterra, Holanda e uma região denominada Resto do Mundo, a qual englobou os demais países importadores não considerados explicitamente no estudo; No que se refere ao mercado exportador, selecionou-se como principais países ou regiões: Brasil, Colômbia, México, América Central, África, Ásia e também, uma região chamada Resto do Mundo, agregando os demais países exportadores que não os anteriormente citados. A divisão do mercado internacional de café dessa forma, resultou na estimação de um total de 210 equações de regressão, uma vez que se estimou três modelos distintos, para dez países e regiões importadoras, com origem em sete países ou regiões exportadoras. Para a grande maioria das equações estimadas (184 de 210) o sinal encontrado para a elasticidade de substituição foi conforme o esperado (positivo); e, a maior parte dos coeficientes encontrados foi estatisticamente significativa, ao nível de 10% ou menores. Os valores das elasticidades de substituição obtidos no trabalho não apresentaram grandes variações, tendo oscilado entre 0,54 nos Estados Unidos e 1,24 na Holanda. Os valores médios para as elasticidades de substituição, calculados em cada mercado importador, indicam os mercados do Japão, Canadá e Inglaterra, como sendo os de maior rigidez quanto a substituição entre os diferentes cafés e os da Holanda, Itália e França, como os de menor rigidez. De maneira geral, as
elasticidades de substituição obtidas mostraram-se com pequenos valores, sugerindo uma baixa substitubilidade do café em todos os mercados importadores, no curto prazo. Desse modo, pode-se concluir que, quando da importação de café, os países levam em consideração, as características intrínsecas ou não, próprias de cada produto, com origem em cada país exportador. Portanto, nas análises das demandas dos cafés por origem, deveria ser considerado tal comportamento do mercado importador, o que certamente melhoraria as previsões quanto a preços e consumo do produto.