Resumo:
A irrigação localizada foi um dos avanços técnicos incorporados ao sistema produtivo do café que tem-se destacado para aumento da produção. Além do aumento na produção, outro aspecto importante é quanto à qualidade do produto, podendo favorecer no rendimento de beneficiamento e na classificação das sementes, com grãos maiores e diminuições nas incidências de defeitos, fatores decisivos na comercialização. Informações de parâmetros que subsidiem o manejo correto da irrigação e seu uso são ainda necessários, principalmente considerando-se as diferentes densidades de plantio, que acarretam diferenças nas relações hídricas e térmicas do cafeeiro. Diante do exposto, o presente trabalho objetivou avaliar o efeito de diferentes densidades de plantio na produção, rendimento e qualidade do café submetido a diferentes suprimentos hídricos. O experimento
foi conduzido na Estação Experimental de Mococa, SP, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). O clima regional é, segundo classificação de Köppen, Cwa, com verão quente e úmido e inverno ameno e seco. O solo foi classificado como Argissolo Vermelho Eutrófico. Foram utilizadas plantas de Coffea arabica cv. Obatã 1669-20 enxertadas sobre Apoatã e cultivadas sob práticas agronômicas preconizadas pelo IAC. O experimento foi instalado em blocos ao acaso com quatro repetições e constituiu-se de seis tratamentos de densidade de plantio, determinados pela combinação de dois espaçamentos entre linhas (1,6 e 3,2 m) e de três na linha (0,50; 0,75; e 1,00 m), cujas parcelas foram subdivididas em irrigadas e não irrigadas. As dimensões das parcelas foram de 9,6 x 12 m, constituídos de seis e três linhas de plantio, respectivamente para 1,6 e 3,2 m de espaçamento entre linhas. O sistema de irrigação utilizado é o gotejamento, com emissores a cada 0,33 m. As irrigações foram efetuadas a cada dois dias e calculadas para suprir o consumo de água do período. O monitoramento da água no solo foi através da técnica de moderação de neutrons. Calculou-se o déficit hídrico através do balanço hídrico seriado decendial pelo método de Thornthwaite & Mather (1955). Considerou-se no balanço um armazenamento hídrico máximo no solo de 100 mm, uma vez que SAKAI et al (2000) observaram que a profundidade efetiva do sistema radicular do cafeeiro na região situa-se em torno de 0,65 m. A produtividade (kg.ha -1 ) dos cafeeiros irrigados e não irrigados nos diferentes espaçamentos, foi expressa por café em coco e café beneficiado. O rendimento foi por sua vez determinado pela razão entre café beneficiado/café em coco. Os resultados correspondem aos dois primeiros anos de produção. Observou-se no primeiro ano de produção, nos dois manejos de água (irrigados e não irrigados), uma tendência linear de diminuição na produtividade, à medida que se diminuiu a densidade de plantio. Como era de se esperar, com o crescimento das plantas, esse efeito não se repetiu na segunda safra. A redução na produtividade dos tratamentos sem irrigação na segunda safra foi devida a intensidade na deficiência hídrica. A severidade no estresse nesses tratamentos na fase reprodutiva do café resultou em baixíssima produtividade, notadamente nos tratamentos mais adensados, conseqüência da maior competitividade pela água para sobrevivência das plantas e no tratamento de menor densidade de plantio pela associação de fatores, baixa disponibilidade hídrica e excesso de radiação, uma vez que originariamente a planta é de sub bosque. Enquanto que nos tratamentos com irrigação a produtividade variou de 52 a 75 sacas de café beneficiado, nos não irrigados a produtividade máxima foi de 7 sacas. Embora presente por um período maior, na primeira safra, o déficit hídrico foi interrompido por inúmeras precipitações. Nessas condições, os danos refletiram principalmente no rendimento de beneficiamento, nos tratamentos mais adensados, onde a competitividade é maior. Os
tratamentos não irrigados tendem a produzir grãos menores, de menor densidade e maior número de defeitos. Os rendimentos de benefício na primeira safra foram superiores nos tratamentos irrigados, porém, com um máximo de 46%, estando abaixo dos 50% aceitáveis e que representam um bom rendimento. Na segunda safra, esse patamar de rendimento foi alcançado somente nos tratamentos irrigados. Os resultados demonstram que a irrigação foi essencial no manejo da cultura do café, propiciando maior produtividade e melhor rendimento, refletindo em melhor qualidade e lucratividade.