Resumo:
É evidente a forte redução da participação do café brasileiro na receita de divisas e no comércio internacional, nas últimas décadas. No entanto, o café ainda possui papel relevante na economia nacional, visto que o "agribusiness" do café brasileiro chega a envolver negócios que somam em torno de US$ 4,52 bilhdes de dólares anuais. No Brasil, o complexo café foi um dos últimos a ganhar a liberdade de mercado. A instabilidade dos preços do produto evidencia o problema de desorganizaçao da
cadeia agroindustrial do café brasileiro em relação aos outros complexos agroindustriais. Este trabalho objetiva analisar a cadeia
agroindustrial do café brasileiro destinado à exportação, sua competitividade e o comportamento das margens de comercialização, com vistas em subsidiar decisões de política comercial e, até mesmo, de investimentos privados. Utilizou-se análise tabular para descrever os diversos segmentos que compõem a cadeia agroindustrial do café brasileiro e fazer algumas inferências sobre sua competitividade no mercado internacional. Para analisar o comportamento das margens ao longo do tempo, usou-se o modelo de tendência das margens de comercialização. A cadeia agroindustrial do café brasileiro apresentou
estrutura de mercado pouco concentrada e ineficiente nos segmentos de produção (baixa produtividade) e na agroindústria do café torrado e moído (incapacidade de desenvolver "blends" para exportação), onde este produto é destinado apenas ao mercado interno. Por outro lado, a agroindústria do café solúvel apresentou estrutura mais organizada, com sua dinâmica associada ao mercado internacional. O segmento exportador possui 174 exportadoras que exportam cerca de 19 milhões de sacas anuais. Os importadores de café possuem estrutura oligopsônica, dado que apenas cinco empresas concentram 80%
das importações mundiais de café. Em relação à receita proveniente das exportações brasileiras do setor agricola, o complexo café teve sua participação relativa sensivelmente diminuída; em 1971, representava 48,59% e, em 1992, apenas 10,67%. Essa redução da participação relativa do "agribusiness" do café brasileiro, em geral, esteve diretamente ligada à grande intervenção do governo na comercialização do produto, como a sustentação de preços elevados artificialmente, enquanto a agregação de valor ao produto, a melhoria de qualidade e o desenvolvimento de marketing foram negligenciados. A análise da exportação do café brasileiro para os EUA, de 1982 a 1992, indicou que a margem de comercialização do atacadista dos EUA foi crescente em
relação à margem do exportador brasileiro. Com relação a parcela recebida. pelo produtor brasileiro, a margem do atacadista dos EUA foi decrescente, no período de 1982 a 1986, e crescente, no período de 1986 a 1992. A margem de comercialização do exportador em relação ao preço recebido pelo produtor apresentou-se decrescente, no período de 1982 a 1986 ; e crescente, no período de 1986 a 1992. O comportamento dos preços do café exportado para todos os países importadores membros da OIC também foi decrescente. Verificou-se que o preço de importação (CIF) reduziu-se, drasticamente, de 168,7 para 78,9 centavos de dólar, por libra-peso, no período de 1986 a 1991. Para este mesmo período, a margem de comercialização das indústrias processadoras de café desses países aumentou de 229,5 para 327,3 centavos de dólar por libra-peso. O forte crescimento da margem de comercialização dos países importadores de café pode estar associado à estrutura concentrada dos grandes grupos empresariais importadores. O preço do café processado nos principais mercados consumidores é bastante elevado, mas o Brasil exporta pequena parcela de café industrializado. O estudo indica que a agroindústria do café precisa acelerar seu desenvolvimento, para cumprir seu importante papel no conjunto da economia cafeeira, colocando no mercado
internacional maior quantidade do produto processado.